segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Ser de Esquerda

Por Benedito Rodrigues

Sempre gostei de política, não pelo seu aspecto mais inerente - a disputa pelo poder -, mas pelo seu potencial subjacente - a chance de mudar algo que diga respeito a mais de uma pessoa, a uma coletividade. 

E de lá para cá, desde que comecei a me envolver, procurei várias formas de se fazer política. Percebi que a maior parte delas, mobilizações em que me vi, iam contra a corrente do que seria “normal”, “esperado”, “conservador”. Identifiquei-me como de Esquerda, portanto.

Antes, não sabia o que era ser de Esquerda, contudo, na medida em que me adentrei mais naquilo que chamamos de militância - que nada mais é que eleger uma causa (ou um conjunto de causas) e por ela se doar de alguma maneira voluntariamente - começou a ficar mais nítido.

Vi que determinadas questões incomodam mais do que outras e que existem coisas que alguns não querem que sejam ditas. Há estruturas de poder injustas que têm escudos escancarados nos discursos (inocentes) de pessoas comuns, que os absorvem e naturalizam, discursos tais como: “é assim porque tem de ser, sempre foi, e sempre será, e eu não posso fazer nada”.

Por fim, percebi que o que me fazia Esquerda era me opor ao status quo (ou seja, o estado como as coisas se encontram), e que ao me opor proporia mudanças numa lógica diferente da que hoje imperava.

E aprendi, ainda, que ser de Esquerda era uma posição difícil, incômoda, justamente por remar contra a maré, e também porque se opor é um primeiro passo, mas propor algo efetivo, realizável, estava a alguns passos mais à frente e exigia bastante maturidade e conhecimento.

Não é fácil. Nem sempre somos coerentes. Não temos as respostas para tudo, mas temos caminhos diferentes (sempre me soou bem a metáfora do caminho). Aprendi que não preciso me dizer revolucionário ou querer ter a resposta para tudo. E o que é preciso? Respondo, com entusiasmo: é preciso se mexer! De alguma forma, se mexer! Porque o que nos faz de Esquerda é muito mais do que o discurso, é a aplicação dele, é a práxis (que quer dizer teoria em prática). Que se não podemos mudar tudo, como diria um poeta coreauense, comecemos por mudar a nós mesmos, em nossas práticas cotidianas, e convocar outros para se mexer com a gente.

Sei bem o que não quero: a mesmice de agora. Por isso convoco, em tom repetitivo (por não ser nem a primeira nem a última vez que o faço): é muito bonito, né, achar as coisas erradas como estão? Pois largue essa vestimenta discursiva de "revoltado", use a energia que você esbanjava nela e parta para a ação. Questione o que no dia a dia dá para mudar, com a sua ajuda onde você estiver, e não somente esperando que os outros mudem por você.

[convém esclarecer que, neste texto, a intenção é partir da experiência vivida por mim (um teor autobiográfico), falar do aflorar do entendimento do que seja Esquerda e militância, e não me tomar, em hipótese alguma, como exemplar/referência nisso para ninguém.]

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