sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

As areias movediças da ilusão



Por Valdecir Ximenes
Todos conhecem de algum filme o que é areia movediça ou terreno movediço. O protagonista entra em um terreno arenoso e começa a afundar (num filme do Indiana Jones tem uma cena assim). E por mais que tente, insista, lute, esperneie, ele afogará na areia até se sumir terra adentro. Se lutar contra ela, ele apenas acelera seu afogamento no terreno movediço. É bem assim que o obscurantismo funciona!
Calma, não se mexa!
Bem, mas vamos nós com essa analogia. Aqui em Coreaú (no município) persiste uma cultura de ilusão por parte da imensa maioria da população. E não é somente de parte da população menos esclarecida não. Essa cultura de obscurantismo persiste até mesmo em pessoas que sabem mais ou menos, pois são letrados. O que é pior, presumimos. Nossa cidade carece de saber e cultura num sentido amplo. Em outro texto meu, disse que nós coreauenses não tínhamos cultura, o que me disseram não ser verdade. Mas me referia à cultura letrada, sabedoria, consciência política e não no sentido popular do termo, pois sabemos que temos cultura adquirida em nossa vivência, em nosso cotidiano.
Coreaú tem “fome” de conhecimento e cultura. Não tendo isso nós crescemos num ambiente hostil a um desenvolvimento amplo e significativo. E não vemos isso. Especialistas da área de humana no asseguram que a pior colonização que existe é a colonização cultural. Ela é muito pior do que a invasão militar/armada, pois na militar a gente ver os militares e suas armas, seus tanques, seu poderio bélico.
Tipo assim, sabe?

Já na invasão cultural, ela acontece de forma tão sutil que nos não a percebemos. Ou pior, ajudamos bestialmente o colonizador a nos colonizar e fazemos isso cegamente. Precisamos conhecer para adquirir cultura.
Por exemplo, em Coreaú (sede) tem-se uma infinidade de lojas, comércios, bancos, farmácias e, até onde eu saiba (por que a frequento vez por outra), somente uma biblioteca pública, que por sinal tem servido apenas como cabide de emprego eleitoral: empregam pessoas lá sem nenhuma competência técnica para cuidar de uma biblioteca pública que seria alguém com formação em Biblioteconomia, Pedagogia ou na ausência destes, de alguém com Licenciatura em qualquer grau superior. E mais ainda, salvo honrosas exceções, a imensa maioria da população não dá a mínima para aquele patrimônio cultural riquíssimo. No Araquém tem político que jaz no poder há alguns anos, criando todo um aparato de domínio, mas centros culturais, como bibliotecas e equivalentes que é bom, nada! Há uma única biblioteca criada pela ONG Aedi, mas num caso isolante, ainda que muito louvável!
"Um país se faz com homens e livros" (Monteiro Lobato)
Continuando … Falta cultura. Percebe-se isso até mesmo nas críticas que o pessoal faz às nossas gestões públicas. Mas entende-se, pois se não tivermos cultura como vamos saber apontar o caminho das pedras? A maioria faz críticas infundadas baseando-se apenas em paixões políticas miúdas e medíocres. Respaldo da falta de conhecimento e cultura de que estou falando. Críticas são fundamentais, mas devo fazê-las de forma sugestiva, apontando caminhos e alternativas. Precisamos de educação, cultura, lazer, mais opções culturais e sociais e o pessoal, pobre de mente, fica discutindo o sexo dos anjos, que para eles parece ser de uma importância monstra!
Outra coisa grave. O pessoal (não só coreauenses) vota nos representantes e os deusificam quando eleitos. Se calam, ficam com medo de fazer lhes críticas e sugeri-los, cobrá-los. Se estou empregado temporariamente é por que preencho minimamente os requisitos exigidos para aquela ocupação – Não deve ser nunca que tenho que me calar com ingerências, como faziam muitos na gestão Roner e de certa forma alguns continuam fazendo na atual gestão! - E quando outros o fazem, eles se chateiam. Mas felizmente existem exceções a regra. Dentre alguns um exemplo notório de pessoa que faz o contrário, por que sabe, é o professor Zé Maria. Ele não se sujeita a ninguém por que sabe, por que é livre e independente. Ele critica, aponta caminhos, luta por direitos, arregaça as mangas. Ou seja, sabe perfeitamente que quando voto em x ou y são eles que ficam sujeitos aos meus ditames, lógicos que prudentes como os do prof. Zé Maria, e nunca que eu deva me calar perante eles. Pelo contrário, eles é que são os meus subordinados!
Estendendo o tapete pro opressor: você está fazendo isso muito errado!
Medo, paixão política miúda, maniqueísmo de que só tem dois lados é reflexo da falta de cultura e conhecimento. São as areias movediças da ilusão, fruto da falta histórica de educação e cultura que nos fazem os mesmos governantes, que por falta de cultura, alguns insistem em deusificar para que nos calem e continuem o ciclo viciado e vicioso.
PS. Ilusão aqui é sinônimo de ignorância, obscurantismo, trevas. Mas não só.

Um comentário:

  1. Valdecir, os funcionários da biblioteca, pelo menos dois deles, ou são formados ou estão se formando em cursos de nível superior, embora de fato não seja em áreas afins à competência de biblioteconomista. O que falta também à biblioteca, mais que títulos a seus funcionários, é um acompanhamento e suporte real, para que ela ganhe vida. As pessoas, inda mais as crianças e jovens, precisam de atrativos para a leitura (isso em Coreaú, Sobral ou em qualquer lugar do mundo), tais como oficinas, contação de histórias, espaços mais dinâmicos e com livros que digam mais de nossa região, além, é claro, de qualificação constante de seus funcionários, que devem cumprir como função precípua, mais do que guardar livros, atuar como educadores. Eu, de minha parte, elaborei um projeto de oficinas voluntárias de leitura chamado "Navegantes, desbravando o prazer de ler", que, infelizmente, não consegui pôr em prática neste ano - no próximo, se Deus permitir,

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