sexta-feira, 14 de março de 2014

Para prêmio Nobel, educação de qualidade reduz desigualdades


Eric Maskin afirma que Brasil poderia repetir uma experiência de sucesso de outros países que é incentivar a ida de crianças à pré-escola, ao redor dos 3 anos

O economista Eric Maskin, laureado com o Nobel de Economia em 2007, apontou a educação de qualidade como o principal fator capaz de reduzir as desigualdades pelo mundo. Em visita ao Rio na quarta-feira, Maskin fez uma palestra sobre o tema na FGV. Ele apresentou sua teoria sobre porque, pós globalização, a desigualdade aumentou em alguns países.

Maskin destaca que a globalização materializou não apenas o consumo, mas também a produção. "Um computador pode ser hoje desenhado nos Estados Unidos, programado na Europa e suas peças podem vir da China", diz.

Nesse modelo, o economista coloca quatro qualificações de mão de obra, A, B,C e D, que interagem entre si, sendo A o mais qualificado. No entanto, em alguma medida, essa interação entre a   produção e, consequentemente, os trabalhadores pode levar ao aumento da desigualdade entre as pessoas.

"O que acaba acontecendo hoje é que os trabalhadores A interagem apenas com os A, enquanto que os D, menos qualificados, também interagem apenas entre os D. Ocorre um cruzamento maior apenas entre os B e C", disse. Os trabalhadores menos qualificados, que ele chama de D, acabam prejudicados, pois uma das formas de aumentar suas habilidades é interagir com aqueles que já estão em patamares mais elevados.

Bolsa Família e pré-escola
Maskin afirmou repetidas vezes que não é um "expert" em Brasil, mas informou que tem conhecimento de programas governamentais, como o Bolsa Família que, acredita, tem tido grande êxito em inserir as crianças no sistema de ensino. O economista afirmou que o país está entre aqueles que conseguiu reduzir as desigualdades, assim como o México e a Argentina, "A América Latina tem apresentando algum sucesso nisso", diz.

Na avaliação do ganhador do prêmio Nobel, O Brasil poderia repetir uma experiência de sucesso de outros países que é incentivar a ida de crianças à pré-escola, ao redor dos 3 anos.

"O benefício disso é enorme, se você for paciente. Você não vê a diferença imediatamente, mas 15 anos depois, quando eles ingressam na força de trabalho, apresentam melhores performances, conseguem melhores empregos e ganham mais dinheiro do que as crianças que não foram à pré-escola. Acredito que essa é uma lição que o Brasil poderia aprender", diz.

Na avaliação dele, a importância de reduzir as desigualdades vem das necessidades de erradicar a pobreza e até mesmo promover a estabilidade política nos países. "A desigualdade não vai embora sozinha. É preciso educação para aumentar a qualidade da mão de obra para que esses trabalhadores possam ter melhores oportunidades", diz.

Na visão de Maskin, é tarefa dos governos investir em educação e promover o aprimoramento da mão de obra. O economista também acredita que as próprias companhias poderiam investir em qualificação, embora entenda que elas não teriam incentivos reais para tanto, já que teriam de pagar salários mais altos para trabalhadores mais educados. Uma solução, aponta, seria os governos concederem algum subsídios para empresas que treinem seus funcionários.

Maskin também reconhece que, olhando o mundo como um só, a globalização serviu para reduzir as desigualdades. No entanto, olhando alguns países especificamente, tanto desenvolvidos como emergentes, por conta das relações de trabalho, as desigualdades foram ampliadas.

Ana Paula Ragazzi / Valor Econômico em: Jornal da Ciência --SBPC



Nenhum comentário:

Postar um comentário