terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Patrimônio Cultural imaterial: Parte I


Por Cosma Araújo

Segundo consta na constituição Brasileira de 1988 no Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico- culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Está dividido em patrimônio material e imaterial, aqui, discorrerei sobre o nosso patrimônio imaterial. Deixo a discussão do patrimônio material presentes em nosso território para outro momento.

Hoje, quando esperava a condução para ir á sobral, um senhor, apelidado pelo nome de canela, falava ele que hoje era dia de Reis e que antigamente, em dias de reis, o Araquém era tomado em festa, “passávamos o dia trabalhando, e quando era á noite víamos correr, brincar aqui na rua”, assim dia o brincante que lembra com nostalgia os tempos de jovem. Mas, afinal o isso tem a ver com o patrimônio?

Assim é o patrimônio cultural imaterial, não podemos vê-lo, muito menos toca-lo, mas está presente na nossa história e nosso cotidiano, mesmo quando parece ter desaparecido como prática, ainda permanece na memória das pessoas. O patrimônio vai além dos bens materiais, ele está presente nas nossas relações cotidianas e se manifesta na relação do homem como o meio em que está inserido. 
  
Dias dos finados no Cemitério de Araquém, dia de reunir os parentes e celebrar os mortos

Ao caminhar pelo nosso município percebemos o quanto o patrimônio está presente, podemos enxergá-lo tanto na arquitetura da casa do coronel, como no senhor que vende suas tarrafas na praça do mercado de Coreaú, o pescador na beira do rio, a lavadeira personagens comum nos rios, lagoas e açudes do munícipio, as chapeleiras, rezadeiras, os profetas da chuva, as oleiras, são eles, mestres dos saberes e fazeres tradicionais enraizados no cotidiano do município.

Rezadeira “Ana Negra” (Foto de Rute Teles)



Modo de produção da Farinha. (fotografia Vera Lúcia)
 
O patrimônio está presente em todos os lugares, lembro-me aqui, da dona Raimunda Pereira, (falecida) antiga moradora da localidade do sabonete. Uma mulher com um conhecimento herdado dos seus antepassados fazia artesanato em Barro, foi com ela que eu minhas irmãs aprendemos a fazer objetos em barro (panelinhas, galinhas, bonecas). Costume comum também, em outras localidades do munícipio, como por exemplo, nas localidades do Boqueirão e Feitoria. Ressalto aqui, a comunidade quilombola de Timbaúba, que merece uma atenção especial, mas que farei em outro momento. 
 
Dona Raimunda Pereira era praticante da umbanda, religião esta, que no Brasil recebeu influência do catolicismo, candomblé, espiritismo e religiões indígenas. Embora, sendo uma religião não muito bem vista pelos vizinhos, é uma prática muito forte no nosso município. E o preconceito que se tem sobre esta religião, se dá, sobretudo, por falta de conhecimento de nossa história gerando assim, uma desvalorização do nosso Patrimônio cultural.

 Praça de Araquém. Fotografia de Cosma Araújo

As praças são lugares de memórias, são nas praças que se constituem as relações sociais, as praças de Araquém são um bom exemplo, a “praça de baixo” e “praça de cima” locais esses, que marcam o cotidiano das artesãs nas tardinhas, fazem seus chapéus enquanto colocam o papo em dia. As praças são Lugares reservados paras as brincadeiras de crianças, subir em arvores, pega-pega, esconde-esconde. Sem falar dos namoros que começam no banco da pracinha e acabam no altar da histórica igreja de Santo Antônio de Araquém. Esta que desde século XVIII realiza cerimonias religiosas no seu recinto. Sabemos que antes mesmo da sua construção, já existia outra capela em construções mais simples, em outro local próximo ao cemitério. Os Festejos de nosso santo padroeiro, por exemplo, é um bem cultural imaterial que permanece até os dias de hoje. 
 

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