segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O CARA QUE GRITA: TOCA RAUL!


 por Rodolfo Melo


Eu sou o cara que grita “toca Raul” durante qualquer show.
Antes de me julgar e até condenar, tente entender os meus motivos. Quando peço para tocarem Raul, não é porque estou bêbado ou porque não estou gostando das músicas do ambiente. Pelo contrário.
O “toca Raul” virou uma espécie de interjeição. É tipo um “viva!”, um “bravo!” ou um “hip hip uha!” para os raulseixistas.
O Raul morreu em 21 de agosto de 1989 e eu nasci em 1986, apenas três anos antes. Mesmo assim, me tornei fã dele ainda na infância.
Com sete anos de idade, eu respondia nas atividades escolares que minha música preferida era o Trem das sete. E tem mais, segundo informações de minha mãe e, por isso, são incontestáveis, durante a gestação eu já curtia o velho e bom rock´n roll temperado com baião, enquanto ela limpava a casa ao som da vitrola tocando o disco Metrô linha 743 no último volume.

Portanto, não teria como ser diferente. Hoje eu sou o cara que ainda pede “toca Raul” mesmo após mais de duas décadas após sua morte.
Em tempos de músicas vazias, puramente comerciais e que já são gravadas com o prazo de validade definido, o “toca Raul” pode ser interpretado também como um protesto ou um apelo por músicas mais elaboradas.
E por diversos motivos, gritar “toca Raul” virou uma obrigação. Por irreverência, por um desejo de música de qualidade, por reconhecer o talento do rock nacional ou que seja para encher o saco de quem está ao lado, ouvindo música sertaneja.
O “toca Raul” se tornou a mosca na sopa do atual cenário da música comercial brasileira.
E depois de tudo isso, você vai me chamar de chato?
E daí? Sou chato mesmo.
Acha que eu sou cafona?
Quem liga?! Na verdade, as pessoas que acham bonito um carro amarelo (mesmo que seja um Camaro) não tem respaldo para decidir o que é ou não cafona.
Me considera um saudosista que vive preso ao passado e não aceita o presente?
Foda-se. Enquanto o presente não respeitar o passado, ele não terá qualidade suficiente para ser respeitado.
Então, enquanto Catras, Anittas, bondes e sertanejos universitários continuarem sendo a referência para o que o Brasil produz de melhor, permanecerei vivendo na saudade daquele rockzinho antigo que não tem perigo de assustar ninguém.
A não ser os tolos, é claro.

                                                                                             Fonte: História da Estória

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