por Rodolfo Melo
Eu sou o cara que grita “toca Raul” durante qualquer show.
Antes de me julgar e até condenar, tente
entender os meus motivos. Quando peço para tocarem Raul, não é porque
estou bêbado ou porque não estou gostando das músicas do ambiente. Pelo
contrário.
O “toca Raul” virou uma espécie de interjeição. É tipo um “viva!”, um “bravo!” ou um “hip hip uha!” para os raulseixistas.
O Raul morreu em 21 de agosto de 1989 e
eu nasci em 1986, apenas três anos antes. Mesmo assim, me tornei fã dele
ainda na infância.
Com sete anos de idade, eu respondia nas
atividades escolares que minha música preferida era o Trem das sete. E
tem mais, segundo informações de minha mãe e, por isso, são
incontestáveis, durante a gestação eu já curtia o velho e bom rock´n
roll temperado com baião, enquanto ela limpava a casa ao som da vitrola
tocando o disco Metrô linha 743 no último volume.
Portanto, não teria como ser diferente.
Hoje eu sou o cara que ainda pede “toca Raul” mesmo após mais de duas
décadas após sua morte.
Em tempos de músicas vazias, puramente
comerciais e que já são gravadas com o prazo de validade definido, o
“toca Raul” pode ser interpretado também como um protesto ou um apelo
por músicas mais elaboradas.
E por diversos motivos, gritar “toca
Raul” virou uma obrigação. Por irreverência, por um desejo de música de
qualidade, por reconhecer o talento do rock nacional ou que seja para
encher o saco de quem está ao lado, ouvindo música sertaneja.
O “toca Raul” se tornou a mosca na sopa do atual cenário da música comercial brasileira.
E depois de tudo isso, você vai me chamar de chato?
E daí? Sou chato mesmo.
Acha que eu sou cafona?
Quem liga?! Na verdade, as pessoas que acham bonito um carro amarelo (mesmo que seja um Camaro) não tem respaldo para decidir o que é ou não cafona.
Me considera um saudosista que vive preso ao passado e não aceita o presente?
Foda-se. Enquanto o presente não respeitar o passado, ele não terá qualidade suficiente para ser respeitado.
Então, enquanto Catras, Anittas, bondes e sertanejos universitários continuarem sendo a referência para o que o Brasil produz de melhor, permanecerei vivendo na saudade daquele rockzinho antigo que não tem perigo de assustar ninguém.
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