Não sou pesquisador. Mas há algum tempo tive a experiência de
realizar atividades de pesquisa como bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq no Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, na Universidade Estadual Vale do Acaraú
– UVA. De lá trago a busca pelo desenvolvimento de nossa região semiárida pelos
recursos aqui mesmo disponíveis.
E com isso em mente, certa vez observei um fenômeno. Os
agricultores no semiárido, como aqui na região do Araquém plantam em pequenas
áreas de solo pobre, nas proximidades de suas residências (os quintais). Em um desses,
a saber, o da casa de meu pai, foi exposta uma mistura de solo subterrâneo, com
aspecto argiloso, como indica o Manual de Métodos de Análise de Solo da Embrapa,
que é conhecida aqui na referida região pelo seu nome indígena: tabatinga. Essa exposição se deu pela necessidade de uma pequena
escavação vertical. O material ficou sobre o solo até o plantio na temporada de
chuva subsequente.
Após poucos meses pôde ser observado que a área enriquecida
pelo solo argiloso possibilitou um maior desenvolvimento das plantas
cultivadas. Onde antes o desenvolvimento era pequeno, com o material passou a
produzir plantas muito saudáveis e produtivas. Além disso, as plantas
produziram em um tempo menor em relação às outras áreas (sem a mistura
argilosa).
Isso pode ser comparado ao uso do pó de rocha de basalto (uma
rocha vulcânica altamente rica nos principais elementos da nutrição vegetal)
para o enriquecimento de solo. Esse uso é uma prática comum na agricultura europeia
e é usada em pequena escala no Brasil, ainda em regime experimental no cultivo
de hortaliças. A rocha em pequenas partículas permite uma maior dissolução de
Fósforo, Cálcio, Magnésio, Enxofre, e outros, que se apresentam em
concentrações muito mais elevadas que nos solos mais férteis, alguns chegam a
60 vezes como é o caso do Fósforo.
Maquinário utilizado na fragmentação do basalto. |
Deve-se ressaltar que uma boa nutrição dos vegetais cultivados
em nossa região implica em uma melhor nutrição daqueles que consomem esses vegetais.
A qualidade dos alimentos oriundos da agricultura familiar poderia ser
melhorada com o enriquecimento do solo. Se isso puder ser alcançado com um
baixo custo, considerando que esse material já se encontra na região,
poderíamos estimular ainda mais a agricultura praticada pelos nossos
agricultores, somando-se a um aumento da eficiência produtiva a partir desse
material (tabatinga). Além disso, o menor tempo de produtividade observado, é
um indício favorável, considerando os baixos índices de precipitação anual.
O uso da tabatinga deve ser alvo de uma pesquisa aprofunda
que pode ser realizada por acadêmicos da região com apoio de instituições que
apoiem a agricultura familiar. Isso poderia confirmar ou refutar a hipótese do
aumento da produtividade vegetal. A observação foi estimulante, mas não
conclusiva. É preciso que novas experiências, dessa vez, controladas, sejam
realizadas para o teste da hipótese. Por hora, é só um convite aos acadêmicos
de Araquém e região que também estejam interessados no desenvolvimento e
valorização de nossa produção agrícola.
Belo texto. Mais que um texto, trata-se de um Paper para publicação em revista cientifica. A sua ideia deve ser aprimorada e tentarmos buscar algo nesse sentido, que é fortalecer a agricultura familiar. Como você é formando em Química (e já foi Bolsista pesquisador do CNPq), já tem um pontapé fundamental para que possa continuar contribuindo nesse sentido. Também vale ficar de olho nos editais do programa "Mais Irrigação" para ver se conseguimos algum projeto para o rio Juazeiro que é perto da gente. E não é pedir demais, é apenas ficar na vanguarda de iniciativas no sentido de viabilizar projetos para nossa região e fortalecer a agricultura familiar, para que se possa levar comida a mesa dos brasileiros aqui perto de nós e oferecendo opções para o campo. Assim, mostra-se que o campo é promissor e que terras consideradas "incultiváveis" são promissoras, como são as terras de lugares "incultiváveis" de Israel. Avante!
ResponderExcluirAdicionalmente podemos pressionar o poder público local, através da Secretária de Agricultura (e afins) para que se possa estabelecer parceria para fazer a coisa funcionar. Existe por exemplo o marasmo e o nada-faz deste orgão, mas cabe a nós pressionar e tentar operacionalizar essas instituições para que funcionem e façam o trabalho delas. Se nós não fazemos, a sociedade de modo geral não o fará, e o orgão por sua vez, nada vai fazer, já que sabemos como andam as coisas no sentido de meio-ambiente, agricultura, campo, em nossas terras!
ResponderExcluirCertamente, meu caro. E com uma participação mais que necessária de outros acadêmicos da nossa região isso pode se tornar bem mais forte.
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