sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O NECESSÁRIO PARA A VIDA

                                                                                                                   Por Ed Cavalcante

Por esses dias estive viajando, revisitando um lugar que eu não via há vinte e cinco anos. Trata-se de uma cidadezinha litorânea, Maragogi, coladinha com Pernambuco, lá no litoral sul. Uma maravilha. Na minha estada anterior, no longínquo ano de 1988, fui a trabalho. Na verdade, era mais diversão do que labuta, eu era crooner de uma banda de baile e fui animar uma festa de padroeira.  Na época, Maragogi era apenas uma vila de pescadores que se estendia margeando a BR. Atualmente, a cidade ganhou equipamentos urbanos e oferece uma boa infraestrutura para atender os turistas que chegam diariamente para nadar na imensa barreira de corais.

Nos dias que passei por lá, além de me divertir bastante, fiquei observando o cotidiano da cidade, que segue um ritmo de vida bem menos frenético do que eu estou acostumado. Deu para perceber, claramente, que algumas pessoas sentiam-se extremamente felizes com a vida que levavam ali. Lembrei-me, então, de um amigo que sempre falava: “Meu pai precisa de pouco pra ser feliz, chega me irrita”. O que ele queria falar, na verdade, era que o pai não tinha ambições que fossem além do "pouco" que a vida lhe oferecia. Ele entendia aquela felicidade como conformismo.

Hoje, alguns anos mais velho, percebo que a felicidade não tem uma forma nem um tamanho definido. Que bom. Eu mesmo sou um exemplo disso. Houve uma época da minha vida que minha felicidade resumia-se a uma valise do tipo 007. Lá pela minha adolescência, eu era uma criança retraída que sonhava em ser cantor. Escrevia letras de músicas compulsivamente e as guardava dentro de uma valise preta que era o meu maior tesouro. Meus melhores momentos resumiam-se as várias noites de solidão com minha valise e meus textos que guardo até hoje. Até a solidão, um monstro que assusta  muita gente, era algo imperceptível diante da felicidade que eu tinha em escrever aqueles textos.

Esse modo de pensar foi levado ao pé da letra durante o movimento hippie em que pessoas se desfaziam do supérfluo para viver, apenas, com o necessário em harmonia com a natureza. Não cheguei a tanto, mas estive perto. O tempo foi passando e eu fui adicionando – ou deixando chegar – outros elementos que proporcionavam felicidade a minha vida. Um violão, um toca discos, um gravador, minha coleção de discos,  de revistas, meus livros, meus poucos amigos e meus muitos sonhos. Viver bem, ao final das contas, é o resultado das suas escolhas e da preservação do que realmente  traz felicidade.

Fonte: Jornália do Ed
 (http://www.jornaliadoed.com.br/2013/01/o-necssario-para-vida.html)

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