Uma disciplina que se mantém bravamente nas grades curriculares, apesar
de perder adeptos, sendo ofertada como facultativa em algumas escolas e em
outras de forma obrigatória. Serve também como coringa, oportunizando que um
professor complete sua carga horária e é vista como a única que ainda ensina valores
morais aos alunos. Refletir sobre sua relevância em sala de aula é importante
numa sociedade laica.
Em princípio sou contra o Ensino Religioso nas escolas. Assistindo a um
vídeo com uma palestra do filósofo e ateu notório Daniel Dennett, porém, passei
a, pelo menos, repensar o assunto. Ele defende que no ensino fundamental deve
se estudar todas as religiões assim como são estudados todos os fenômenos
naturais. Propõe que devem ser mostradas para as crianças as crenças existentes
no mundo, ensinando seu funcionamento, seus dogmas, suas proibições, seus
livros, seus pré-requisitos para a entrada em cada uma delas. Segundo ele, “a
democracia depende de uma cidadania informada”. Os pais podem ensinar seus
filhos o credo que quiserem, mas seriam irresponsáveis se não os deixassem
conhecer outros.
Lembro que quando lecionava Ensino Religioso (sou um ateu que já foi
professor de religião) o fazia de forma imparcial, mostrando que há várias
crenças e, inclusive, há possibilidade de não crença. Nesse sentido, a
disciplina faria um grande serviço. No entanto, como ela sempre está
nas mãos de cristãos, mais particularmente católicos, na maioria das vezes
ensina apenas um lado. Mesmo quando o professor leva pessoas de religiões
diferentes para falar com os alunos, com o pretexto de se mostrar
"aberto", durante o ano o discurso explícito e implícito predominante
é o cristão. Nossas escolas, com raríssimas exceções (e posso dizer que
trabalho em uma que pertence a essas raras e em outra que faz parte da
maioria), celebram as datas do calendário cristão, possuem quadros ou imagens
de santos, Nossas Senhoras e Jesus Cristo em suas paredes, promovem momentos de
oração (há mais eventos com rezas do que com o Hino Nacional) em que o
descrente se sente coagido a participar e possuem mais Bíblias do que outros
livros sagrados em sua biblioteca.
Para quem pergunta por que um ateu se preocupa tanto com as religiões, respondo
que elas ocuparam boa porção de tempo da minha infância e adolescência. Na
idade adulta, continuam invadindo minha privacidade, minha “timeline” nas redes
sociais da internet (“quem acredita em Deus compartilha, quem não acredita só
olhe”), a porta da minha casa (“tem um minuto para Jesus?”) ou até entram dentro
dela (“ponha um copo de água ao lado de sua televisão”), os lugares onde
trabalho, as decisões governamentais, etc. Sinto-me, portanto, no direito de
opinar sobre elas, afinal, se não as sigo, se digo que não acredito em um ser
superior, sou considerado uma pessoa insensível, sem coração e culpada pelos
males do mundo. Não posso ignorá-las porque as pessoas fazem questão que não as
ignore.
Como as religiões estão tão presente na nossa vida, é normal que
continue sendo estudadas nas escolas, porém sob um novo enfoque, de forma
neutra. Que o professor não imponha sua crença ou descrença, mas que faça o
aluno refletir sobre elas, afinal influenciam nossa sociedade. Se acontecer o
contrário, será apenas uma forma de manipular a mente de nossas crianças.
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