Imagem: reprodução da internet |
Numa
dessas madrugadas de insônia, lá pela década de noventa, acho, assistia a um
filme na Sessão Coruja e um velho, que se dizia sábio, mandou essa: “Nós
aprendemos tudo que precisamos para viver até os 15 anos, depois disso vamos
colocando as coisas em prática”.
Discordei,
claro. Mas, é sabido, que todos, absolutamente todos os adolescentes, rezam por
essa cartilha. Acham que sabem tudo e podem tudo. Tentando interpretar o recado
do filme, acredito que o “vamos colocando as coisas em prática” pode implicar
em desconstruir algumas das “certezas absolutas” que a adolescência impõe.
Desconstruí
várias ao longo da vida. Não me tornei um astro do rock, não fiquei famoso e
rico antes dos trinta, me formei em Geografia e não em Jornalismo, e por ai vai
(ainda está indo). As coisas vão acontecendo e você nem percebe que a
desconstrução está se processando. Alguns lutam contra isso e confundem a troca
de foco com não realização de sonhos.
A
interatividade atingiu proporções gigantescas com a dinamização da
conectividade. Alguns, inclusive, defendem que devemos reduzir a marcha, o
fluxo de ideias e de informação é tão intenso que não processamos direito o
conteúdo. A informação, nesse caso, não gera poder porque não se transforma em
conhecimento. Nesse universo onde uma teoria pode mudar com um clique, a desconstrução
a que me referi no segundo parágrafo tornou-se algo corriqueiro e perigoso.
O
grande problema dessa nova ordem da comunicação é a falta de estrutura
dos
internautas para lidar com tudo isso. Uma situação comum: alguém que
zapeava
pela rede encontra um texto em um site sobre o qual não se tem muitas
referências e as informações desse texto passam a fazer parte da horda –
o termo é esse mesmo
– de teorias que “fundamentam” as ações desse incauto navegador
cibernético. Vários são os naufrágios.
Parafraseando o “sábio” do filme, eu diria que “até os 15 anos nós aprendemos a
duvidar de tudo que precisamos para viver”. Duvidamos dos professores,
duvidamos dos nossos pais, duvidamos de Deus, duvidamos do padre, do pastor, de
tudo que representa o poder instituído, Duvidamos e por isso aprendemos.
Desconstruindo ideias chegamos às nossas certezas que, por uma questão de
prudência, nunca devem ostentar o status de absolutas.
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