sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Naquela noite não deu samba...

por Valdecir Ximenes

Ele tinha sentido uma coisa por ela. Só sabia que sentia e que era forte. Talvez até mais forte do que ele pudesse suportar. Acontece com todo garoto na idade dele, com dezessete anos de idade. Mas dessa vez, quando ele a viu, mesmo depois do troço que ele sentia em todo o corpo, ele quis se aproximar. Só quis. Titubeou. Não chegou junto. Pensou que em outra ocasião a abordaria, dessa vez com coragem para fazê-lo.

Ela tinha vinte anos, mas não parecia (e se parecesse, para ele não fazia diferença). Menina-moça, jeito de muleca, cabeça feita como toda mulher segura de sua beleza no mundo e que sabe o que quer. Madura, mas não tanto. Ele só entendia que ela era perfeito enigma, de beleza e de mistério. Ela gostava de muitas coisas que ele também apreciava até certo ponto; gostava de dançar, sair, cantar, estudar, se divertir. Talvez gostasse de rock, samba. MPB, só talvez. Mas é certo que era fissurada em Machado de Assis e Edgar Alan Poe. Nada mais, talvez.

Ele era um rapaz do interior, meio tímido. Amava rock (e todas as suas vertentes), mas não era um cara bitolado. Gostava de literatura, de cinema, de ciências. Tinha problemas, é certo, afinal todo mundo tem. Ele era um cara descolado, saca?

Bem antes ele tinha tentado uma aproximação com ela. Ela o quis, mas por um mistério que envolve as mulheres, não deu chance pra ele àquela noite. Ela o despachou solenemente.

Ele quis saber qual foi o erro na sua abordagem. Tentou equacionar alguma coisa, mas nada. Se contentou em saber que um “fora” de uma garota daquela era o grande começo, o começo de uma grande vitória. Era sim uma desculpa para se aproximar novamente.

Numa outra noite ele a viu, hesitou um pouco e investiu. Estava ciente de que aquela linda mulher também o queria de certo modo.

E foi. Conversaram muito acerca de muitas coisas. Conversaram sobre a vida. Sobre algumas coisas comuns tipo música. Aumentaram grandemente o interesse um pelo outro. Sorriram, riram, dançaram, se divertiram juntos. E foi assim que um dia se beijaram. 

À meia-noite ela pediu para sair sozinha. Pra algum lugar, retocar a maquiagem, talvez. Depois ela voltou e veio abraçada de outro rapaz, o qual, disse ser o seu namorado.


Vai entender! A vida tem dessas frustrações.  Naquela noite, pra ele, não deu mesmo samba. 

Nem ao menos deu rock!

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