Renato Russo
está morto. Raul está morto também. E não vão mais voltar das
suas viagens ao cosmos do céu, bem disse Zé Ramalho em para
Raul. A Legião Urbana ainda continua viva na sua obra e
lembranças, mas não existe mais a formação da banda. Os
Engenheiros está desfeito. Freddy Mercury também morreu, Cazuza e
Kurt Cobain idem. RPM e Ultraje a Rigor enveredam pelo caminho do pop
e estão politicamente alinhados com o pensamento economicamente
dominante. Espera-se pouco destes dois grupos, que reconhecidamente,
já nos legou músicas verdadeiramente genuínas. A música está
contaminada por coisas que achamos pelo menos estranhas. Apesar de
fazer parte do processo, há coisas que soam bastante como
escandalosas. O a lelek lek, poderosas, funk ostentação, forró
mercantilizado, etc. “Produções” que podemos definir como, no
mínimo, sem nenhuma criatividade artista. Então a pergunta surge
inquietante: quem ou o que pode salvar música? Tentarei responder
devidamente a pergunta que faço.
Nem tudo está
perdido. E já é uma perspectiva animadora por esse ângulo. Já
eleva os ânimos. E não há por que desanimar com o que vemos ou
escutamos na TV. As obras de Mozart e Beethoven não são
televisionadas. A revolução em qualquer aspecto não passará na
Televisão. E não adianta chorar pelo leite não derramado. Esse
leite vai para os sugadores, para a elite. Mas a música? Reflexões
acerca dela são sempre pertinentes e fundamental que se faça. Não
podemos deixar a música morrer. Ou melhor, pelo menos não a boa
música. E olhe que estou chamando as outras aí de música, de modo
que já faça muito.
Um dia desses
um amigo me perguntou se tinha jeito de salvar a música. Pensei
inicialmente em dizer que não, não havia. Mas ponderei e quis dizer
a ele que não podemos generalizar, por que seria pôr tudo num
barco e afundar tudo de uma vez só. Mas não é isso o que acontece.
Há pessoas boas salvando a música, e eu já ia escrevendo
literalmente. Ainda temos Chico Buarque, Caetano Veloso, Zeca
Baleiro, Zé Ramalho. O Humberto Gessinger (dos Engenheiros) ainda
continua na estrada. Existe o Cachorro Grande. Isso o cachorro grande
existe, é uma banda de rock do rio grande do sul. Uma banda de glam
rock existe lá no Mato Grosso, chamada de Vanguart. Muito bom o som
deles. Para os metaleiros temos o Sepultura e mesmo que eles cantem
em inglês, nós temos a opção de pegar (quase sempre) a letra na
internet e ainda traduzir, assim “derrubamos” dois coelhos de uma
vez só, ou seja, ouvimos uma boa (e pesada) música e ainda
aprendemos inglês, uma língua necessária hoje em dia.
Mas queremos
salvar a música. Sempre dizemos isso. A verdade é que não se
aproveita nada do que o pessoal vende hoje em termos de música (de
novo as exceções). Ainda temos o Titãs, é certo. Mas leia o
comentário que um leitor/internauta faz num texto publicado na
revista eletrônica Papo de Homem.
“Sou da
gerção (sic) de ouro do rock nacional: Cazuza, Barão Vermelho,
Legião Urbana, RPM, Titãs e Paralamas do Sucesso. Naquela época,
cantávamos a rebeldia do interesse coletivo. Nos preocupávamos com
as mudanças do cenário político nacional. E fico decepcionado ao
ver nossas lutas e conquistas, nosso grito de rebeldia, por aquilo
que sonhávamos, acabar dessa forma: uma juventude cada vez mais
inerte, indiferente com as coisas ao redor. Que só olham para o
próprio umbigo. Que só querem saber de celulares caros, facebook e
carro importado. A grande maioria hoje é dessa forma. Antes tínhamos
o interesse coletivo. Hoje, prevalece o interesse individual.
O
grande Renato Russo, o último poeta do rock nacional, era célebre
pelas suas letras. Pudera, o cara tinha uma biblioteca pessoal em sua
casa. Hoje, temos Restart, banda que faz sucesso, que mal sabe a
capital do Mato Grosso. Que diz desconhecer se no norte do país
existe civilização. Esses são os 'ídolos' de hoje. Esses são o
'futuro' do país.
Sobre
aonde foram parar os 'ídolos', tenho a desconfiança que o último a
nível mundial morreu em 1994 e o último ídolo nacional morreu em
1996. E todos eles, neste exato momento, estão lá, conversando e
cantando ao lado de Deus” (em www.papodehomem.com.br).
“Naquela
época, cantávamos a rebeldia do interesse coletivo”, diz o
leitor. Fica difícil imaginar um ouvinte de Anitta (pode ter
exceção) comentar sobre Política Nacional nos dias atuais. Pode-se
até defender que a minha crítica é precipitada. Precipitada mas
verdadeira. Se é difícil ver/ler um post realmente relevante da
imensa maioria do pessoal que usa certas mídias sociais, imaginemos
do pessoal que é fã de uma onda do momento, “que só querem saber
de celulares caros, facebook e carro importado”, como escreveu o
leitor/internauta
Bom,
acontece que como já disse e friso novamente, existe um mar de
anônimos e de outros não tão anônimos fazendo música boas até
mesmo alternativamente, pois como disse a revolução (na arte/música
aqui) não é televisionada. Há muita opção, por incrível que
possa parecer. Há garotos fundando bandas de garagem que fazem um
som estrondoso e um rock engajado, como tem de ser. Há outros que
fazem forró de qualidade, nativo, verdadeiro e autentico como o de
Luiz Gonzaga. O Fagner, o Ednardo, o Belchior, o Alceu Valença, o
Lenine, todo mundo está aí na ativa. O RPM ainda é “ouvível”,
etc. O reggae existe é muito bom, basta ouvir Tribo de Jah, Alpha
Blondy. O rap é legal. O de Gabriel O Pensador, dos Racionais MCs e
também do Marcelo D2, etc. Festivais de boa música existem, apesar
de distantes de nós, a ideia persiste. SWU, Rock in Rio (isso mesmo,
o próprio), Ceará Music, o festival na internet chamado
WebFestValda e muito mais.
Fica
o texto para análise. E sim, queremos discutir sobre Música. É
necessária a discussão. Mas queremos fazer de forma plenamente
salutar. E acho que é por aqui!